27 de jan. de 2011

Novidades RH

ISO 10018 traz novidades para Recursos Humanos

Por Patrícia Bispo para o RH.com.br

Oferecer subsídios para que as organizações consigam melhorar o envolvimento e a contribuição das pessoas, dos gestores e de outros empregados, assegurando as condições de trabalho - saúde, segurança e a responsabilidade social. Esse é o principal objetivo da ISO 10018 que está sendo trabalhada pelo grupo internacional WG18 – coordenado pelo Peter Merril.
Esse trabalho teve sua origem a partir de consultas ocorridas entre organizações certificadas de diversos países, durante os últimos dois anos, oportunidade em que a ISO constatou importância e o interesse em uma nova norma, a ISO 10018 “Participation and Competence of People in Management Systems”. Para conhecer um pouco mais sobre esse documento que não entrará em vigor antes de 2010, o RH.com.br conversou com o coordenador Renato Pedroso Lee, da Petrobras, que também participa da elaboração da ISO 10018. Na entrevista, ele explica como está o andamento da estruturação da norma e que impactos e benefícios a mesma pode trazer às organizações e aos profissionais. Como a nova norma refere-se à participação e às competências de pessoas em sistema de gestão, é um assunto de grande interesse para quem trabalha em Recursos Humanos. Vale ressaltar que o documento está sendo elaborado por representantes do Brasil, Estados Unidos, Suécia, Canadá, Inglaterra, Irlanda e África do Sul.
RH.com.br - Qual o principal objetivo da ISO 10018?
Renato Pedroso Lee - Disponibilizar orientações para uma organização de modo que melhore o envolvimento e a contribuição das pessoas, dos gestores e de outros empregados, assegurando as condições de trabalho - saúde, segurança e a responsabilidade social. Essas orientações promoverão a efetiva interação entre as pessoas e os processos para melhorar o desempenho organizacional com benefício mútuo para a organização e para as pessoas.

RH - De acordo com a ISO 10018 o que seria competência?
Renato Pedroso Lee - A definição de competência ainda está em discussão. Na última reunião da ISO, por exemplo, chegamos a uma primeira definição, dada pelo grupo de terminologia da ISO TC 176 – Comitê Técnico responsável pela elaboração das normas de gestão da qualidade, ao qual se subordina o grupo de trabalho que está desenvolvendo o documento relativo às pessoas. A definição de competência é a seguinte: capacidade para aplicar conhecimento e habilidades para alcançar resultados desejados.
NOTA1: a aplicação contínua da competência pode ser afetada pelo ambiente de trabalho com todas as suas variações, pressões, relacionamentos e conflitos que podem afetar, por exemplo, atitude e comprometimento para aplicar conhecimentos e habilidades pertinentes.
NOTA 2: requisitos de competência são mais do que qualificações acadêmicas, treinamento e experiência. Eles definem os resultados a serem alcançados por um trabalho em particular, o critério ou norma de desempenho a ser obtido, a evidência requerida e o método de obtê-lo.

RH - A ISO 10018 refere-se à participação e às competências de pessoas em sistema de gestão. Como será a participação efetiva dos profissionais nesse contexto?
Renato Pedroso Lee - Como está dito no escopo da norma, o que se pretende é dar diretrizes, para que as organizações consigam obter a participação e o envolvimento das pessoas de modo que as mesmas coloquem todo o seu potencial de competência a serviço das organizações no sentido de obter os melhores resultados para ambos, a organização e as próprias pessoas.

RH - Como a ISO 10018 será tratada na prática?
Renato Pedroso Lee - Este documento ainda está na fase inicial de sua elaboração e deverá ser tratada como uma norma voluntária. Será uma norma de diretrizes, ou seja, de orientações para as organizações.

RH - Haverá certificação para as empresas que atenderem aos critérios apresentados por esse documento?
Renato Pedroso Lee - Esta norma ISO 10018 não está sendo feita para ser usada com fins de certificação. No entanto, nada impede que ela venha a ser utilizada como forma de induzir as organizações a tratarem as pessoas em uma dimensão diferente de simples recursos a serem alocados e explorados para obter os resultados organizacionais desejados. Esta é uma tentativa de colocar as pessoas com a sua real e justa dimensão na gestão das organizações, como seres inteligentes e capazes de contribuir não apenas com a sua competência e experiência, mas também e, principalmente, com sua atitude para a obtenção dos objetivos organizacionais.

RH - Na prática, o que muda para a área de Recursos Humanos com a criação da ISO 10018?
Renato Pedroso Lee - O que muda para a área de RH eu não sei. Só sei que, para as normas da família ISO 9000 este é um importante passo para que as pessoas sejam consideradas e tratadas como seres inteligentes, possuidores de desejos e vontade próprias que podem e devem ser dirigidas e orientadas no sentido de se obter benefícios para ambos, a organização e as próprias pessoas como dissemos anteriormente.

RH - Em que situação encontram-se os trabalhos da ISO 10018?
Renato Pedroso Lee - Está em uma fase inicial de “Working Draft”, ou seja, em uma fase em que está se trabalhando ainda no âmbito do grupo de trabalho que antecede a fase de que em que o documento, em formato e conteúdo mais maduro e estruturado é colocado para apreciação do Subcomitê Técnico para, em seguida, após apreciação, comentários e ajustes, passa para o nível do Comitê Técnico, que é a última fase antes da publicação como norma internacional.

RH - Existe uma previsão para que a mesma entre em vigor?
Renato Pedroso Lee - Não antes de 2010. Este tempo longo de maturação prende-se ao fato de haver necessidade de consenso internacional e, no caso específico desta norma relativa às pessoas esse consenso deve ser ainda mais difícil tendo em vista as questões relativas a valores e às diferenças culturais existentes entre os diversos países.

RH - Quais são os principais tópicos abordados nesse documento?
Renato Pedroso Lee - A estrutura da norma ainda está em discussão e, enquanto não for bem definido o escopo da norma, essa estrutura não poderá ser definida. Para termos mais elementos para dar continuidade à elaboração da norma, cada membro do grupo ficou responsável por trazer para a próxima reunião o desenvolvimento dos seguintes temas: competência, comunicação, reconhecimento, gestão da mudança, empowerment, feedback, cultura e valores, equipe de trabalho e aprendizado.

RH - Que impactos a ISO 10018 trará ao mercado e aos profissionais?
Renato Pedroso Lee - Entendo que será mais uma referência, obtida de um consenso internacional e com o aval da ISO – International Organization for Standardization, para auxiliar as organizações a obterem melhores resultados a partir da utilização plena das competências das pessoas, capturando o que há de melhor em cada uma delas, de acordo com os interesses e para benefício de ambos, a organização e as pessoas.

RH - Quais suas expectativas em relação à aplicação da ISO 10018 no Brasil?
Renato Pedroso Lee - Minha expectativa é que, com esta demonstração explícita da ISO nos aspectos relativos às pessoas na implementação de sistemas de gestão da qualidade, as organizações – empresários e gestores, tenham um olhar mais humano para esse recurso tão importante e vital para as organizações que são as pessoas. E também que os gestores considerem as pessoas como colaboradores efetivos que pensam e contribuem com seus conhecimentos tácitos e explícitos, com sua inteligência e atitude pró-ativa para o alcance dos objetivos organizacionais compartilhados entre todos e não apenas como realizadores de tarefas, que não pensam, definidas por alguém que pensa por todos e têm a resposta para tudo. Esta postura é, hoje, não apenas desejável como vital para as organizações enfrentarem os desafios que se apresentam para o mundo onde as mesmas não podem mais serem vistas como organismos isolados e auto-suficientes. As organizações devem ser encaradas como organismos vivos de uma rede interconectada e interdependente, que influenciam umas às outras e se relacionam através de pessoas e sistemas operados por pessoas na busca de soluções para os problemas que surgem todos os dias, com a nova economia e ordem mundial, na busca do bem-estar de todos nós como pessoas e do planeta como um todo.

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